Fitoterápicos para idosos: como usar e quais…
A fitoterapia, uso terapêutico de plantas medicinais, é uma das formas mais antigas de tratamento da humanidade, com registros que remontam a civilizações como a egípcia, chinesa, indiana e greco-romana.
Durante a Idade Média, os conhecimentos sobre plantas foram preservados por monges e médicos árabes, influenciando profundamente a medicina europeia. Com o avanço da farmacologia moderna no século XIX, muitos princípios ativos foram isolados de plantas e a pesquisa clínica sobre eles evoluiu, o que levou à redução do uso tradicional das ervas em favor de medicamentos sintéticos.
No entanto, a fitoterapia voltou a ganhar espaço nas últimas décadas, impulsionada pelo movimento de medicina integrativa e pela busca por tratamentos mais naturais e com menos efeitos colaterais. Hoje, é reconhecida pela OMS e incorporada em diversas políticas públicas de saúde, inclusive no Brasil, onde é regulamentada pelo SUS como prática integrativa e complementar.
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O que são os fitoterápicos e por que requerem cuidado
Fitoterápicos não são “chás” ou “remédios caseiros”. Eles são produtos registrados e regulamentados, feitos com extratos padronizados de plantas, e passam por controle de qualidade e testes de eficácia.
Portanto, são medicamentos, ainda que naturais. Por essa razão, seu uso responsável, com orientação médica, é essencial — especialmente em idosos, que costumam tomar várias medicações e podem sofrer interações perigosas. A ideia de que “por ser natural, é seguro” é equivocada — doses, interações e efeitos adversos devem ser considerados.
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Medicamentos tradicionais x fitoterápicos
• Medicamentos tradicionais (alopáticos): são formados por compostos sintéticos ou semissintéticos, compostos por uma substância isolada com ação específica, com efeito mais rápido e mais potente, indicado para casos agudos, graves e doenças crônicas, com maior risco de efeitos colaterais. São regulamentados pela Anvisa.
• Fitoterápicos: são compostos de origem vegetal, compostos por uma mistura complexa de substâncias, com efeito terapêutico mais suave e gradual, com indicação para prevenção e promoção da saúde, como complemento ao tratamento tradicional em casos leves a moderados. Apresentam melhor tolerabilidade, porém não são isentos de efeitos colaterais, e também são regulamentados pela Anvisa.
Evite adquirir medicamentos fitoterápicos em feiras livres ou pela internet sem procedência conhecida. Sua eficácia pode variar conforme a padronização do produto, dose, via de administração e individualidade do paciente.
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Fitoterapia em idosos: quais os benefícios?
A ciência tem mostrado que alguns fitoterápicos funcionam e podem ser grandes aliados da saúde, inclusive na velhice. Mas, como tudo na medicina, o uso de fitoterápicos deve sempre ser orientado por um profissional de saúde.
Médicos e farmacêuticos habilitados conseguem avaliar se o fitoterápico é indicado para o seu caso, considerar possíveis interações com outros medicamentos e ajustar a dosagem de forma segura.
Isso é ainda mais importante para pessoas com doenças crônicas, idosos, gestantes e crianças. O segredo está no uso correto, na indicação precisa e no acompanhamento profissional.
Dito isso, o uso de fitoterápicos tem ganhado cada vez mais relevância, principalmente pela necessidade de abordagens terapêuticas mais seguras e toleráveis para pacientes idosos. Com o avanço da idade, o organismo se torna mais sensível a reações adversas de medicamentos sintéticos, além de haver maior risco de interações medicamentosas devido ao uso simultâneo de múltiplas drogas (polifarmácia).
Além disso, muitos fitoterápicos demonstram efeito sinérgico com medicamentos tradicionais, potencializando resultados terapêuticos sem sobrecarregar o organismo. Essa característica é especialmente útil em quadros crônicos, como insônia, ansiedade leve, dores articulares e distúrbios digestivos, que frequentemente afetam a população idosa.
Fitoterápicos com evidência científica
Alguns fitoterápicos se destacam por terem benefícios comprovados por estudos científicos sérios. Podemos citar alguns exemplos, como:
• Ginkgo biloba: melhora da memória e da concentração em casos leves de declínio cognitivo. Alguns poucos estudos mostram que pode ajudar nas funções cerebrais. Por outro lado, deve ser usado com cautela, pois pode aumentar o risco de sangramento, principalmente em pacientes em uso de anticoagulantes.
• Valeriana: ajuda a dormir melhor e reduzir a ansiedade, porém seu uso associado com outros calmantes deve ser cauteloso.
• Ginseng: aumenta a disposição, melhora a atenção e a imunidade, com efeitos positivos em vitalidade e desempenho mental e para cansaço crônico. Mas atenção: pode alterar a pressão arterial e interferir em níveis de glicose.
• Cúrcuma: combate processos inflamatórios e dores articulares, e pode beneficiar o cérebro. Possui ação anti-inflamatória, com resultados promissores em artrite e até em doenças neurodegenerativas. Porém, merece cuidados: quando utilizada em altas concentrações, pode levar a lesão hepática, alterações gastrointestinais e interagir com medicamentos como anti-inflamatórios e anticoagulantes, entre outros.
Portanto, mesmo sendo naturais, os fitoterápicos não estão isentos de riscos. Especialmente em pessoas idosas, com outros problemas de saúde, é fundamental conversar com o médico antes de iniciar qualquer tratamento — inclusive os “naturais”. A automedicação, mesmo com produtos de origem vegetal, pode trazer complicações.
Conclusão
A fitoterapia é uma ferramenta valiosa no arsenal terapêutico, mas exige conhecimento técnico e cuidado na indicação. Não se trata de substituir os medicamentos tradicionais, e sim de integrar o melhor de cada abordagem, sempre com base na ciência e na individualização do cuidado.
Quando bem embasada em evidências, pode ser uma valiosa aliada na prática médica, especialmente no cuidado com pacientes idosos. O incentivo à prescrição consciente e criteriosa de fitoterápicos deve sempre estar sustentado por dados científicos atualizados, respeitando as particularidades dessa população.
No entanto, ainda há uma lacuna significativa de estudos robustos que avaliem a eficácia e a segurança desses recursos na geriatria, assim como os estudos para tratamentos tradicionais, o que reforça a necessidade de mais pesquisas nessa área.
Antes de iniciar o uso de qualquer produto fitoterápico, informe-se. Leia a bula, siga corretamente as instruções e busque sempre orientação profissional. O uso consciente e informado é o melhor caminho para aproveitar os benefícios das plantas medicinais com segurança.
*Julianne Pessequillo é geriatria e clínica geral, especializada em longevidade saudável
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)