A hora e a vez da corrida, o esporte que pro…
“A corrida é o esporte individual mais coletivo que existe”, declara, encantada, a analista de marketing Heloísa Justo, de 27 anos. “Ela me fez conectar com outras pessoas e comigo mesma.”
A paulistana começou a correr durante a pandemia porque, assim como milhões de pessoas, estava pra baixo, dormia mal, tinha engordado e resolveu seguir os conselhos da psicóloga.
“Isso me ajudou a equilibrar as crises de ansiedade, a ter mais paciência, a respeitar os processos da vida”, relata.
De passada em passada, a corrida virou uma paixão. “Sabe quando a gente romantiza a intimidade daquele momento em que fica em silêncio junto ao namorado? Correr com alguém ao seu lado é a mesma coisa”, abre o coração. “Não é sobre conversar, mas estar junto e se apoiando para o mesmo objetivo.”
Mais do que uma forma de socialização, o exercício gerou uma espiral positiva no dia a dia de Heloísa: começou a comer melhor, a malhar regularmente e até a procurar outras modalidades, como a natação.
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Definitivamente, ela não está sozinha nessa. Sua história se repete em outras esquinas, cidades e estados do país, mesclando turmas e faixas etárias.
“No ano passado, meu pai criou um grupo no WhatsApp chamando várias pessoas da família para participarmos juntos de uma corrida temática do Bob Esponja”, conta a jornalista Beatriz Jorge, de 29 anos, também de São Paulo.
“Resolvi aceitar pela companhia. Meu namorado já corria, então vi os treinos como uma forma de sairmos da rotina e fazermos algo juntos.”
Beatriz nunca gostou de esportes, mas a corrida — com uma dose de diversão — tem mudado sua visão. Agora, praticando com constância, a jornalista sente que não só sua energia e saúde decolaram: a comunicação com o parceiro melhorou!
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A sensação de superar os limites do corpo (e da vida) empurra muita gente às ruas e pistas de corrida. E, nesse sentido, a idade não é um obstáculo.
Que o diga o médico Drauzio Varella: “Quando eu tinha 49 anos, encontrei um colega três anos mais velho que perguntou minha idade. Ao responder, ele disse: ‘Está perto dos 50, é quando começa a decadência do homem!’ Eu não aceitei aquilo, estava trabalhando muito, cheio de projetos, não fazia sentido pra mim”, conta.
E o doutor Drauzio saiu da conversa com uma meta em mente: não deixar a tal decadência bater! “Foi ali que decidi me inscrever para uma maratona no ano seguinte e começar a treinar. Se eu conseguisse correr 42 km, provaria para mim mesmo que a decadência não chegaria aos 50”, revela, sorrindo, o oncologista.
Dito e feito: em meio a outros 9 mil participantes, ele completou sua primeira maratona, a de Nova York, em 1993, numa época em que bastava se inscrever para participar. Hoje, com o boom da modalidade, mais de 300 mil pessoas tentam, por sorteio, uma das 50 mil vagas para a prova anual.
Atualmente, aos 81 anos, Drauzio já correu mais de 25 maratonas e irá encarar outra no fim do ano, em Berlim.
“Começar a correr me fez mudar o estilo de vida e ser uma pessoa mais saudável para aguentar o tranco”, diz o também autor do livro Correr (Companhia das Letras), em que narra sua trajetória e comenta estudos e mitos sobre o tema.
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Heloísa, Beatriz e Drauzio podem não ter nada em comum, mas os três acordam e calçam um tênis de corrida para treinar. Praticam aquele que é tido como o esporte mais antigo da história.
A prática é consagradamente uma das mais populares do mundo, com mais de 600 milhões de adeptos. Mas, mesmo nunca tendo perdido seu chamariz, é fato — e você pode confirmar perguntando a familiares e amigos — que recentemente a atividade ganhou de vez as ruas, academias, telas, lojas e papos, suscitando um calendário de eventos de tirar o fôlego.
Isso pode ser comprovado em números através do estudo Por Dentro do Corre, da marca Olympikus junto à empresa de pesquisa Box 1824, que ouviu mais de 2 mil praticantes brasileiros.
“A corrida passou por uma evolução em diversos sentidos, principalmente em como as pessoas a encaram agora”, afirma Luisa Bettio, diretora da Box 1824.
O levantamento mapeou o perfil dos corredores, seus hábitos, motivações e os significados do esporte. “Uma das conclusões mais interessantes é que a corrida, além de ser o esporte mais democrático que existe, é também o mais personalizável. Todo mundo pode correr e cada um tem sua própria jornada”, destaca Luisa. Confira os dados da pesquisa ao longo da reportagem!
Resumindo, cabe todo mundo: quem quer competir e se provar, quem busca fazer parte de uma tribo e quem vislumbra uma vida nova e saudável, já que a corrida entrega tudo isso e mais!
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Por que eu deveria começar a correr?
Tirar os dois pés ao mesmo tempo do chão por alguns segundos é literalmente o primeiro passo.
E eu resolvi tentar!
Percebo que meus braços começam a balançar ao lado do corpo, na direção oposta à das pernas: quando o esquerdo está na frente, é a direita que dispara, e vice-versa.
Meus pulmões pedem mais ar, o coração acelera e os músculos gritam por combustível. Em alguns minutos, sou obrigada a abrir a boca — o ar que entra pelo nariz já não é suficiente.
O suor escorre, a temperatura aumenta, os 500 metros pela frente parecem uma maratona! A ciência ensina que, durante a corrida, cada contato do pé com o chão pode gerar um impacto de até três vezes o peso corporal — para mim, porém, parecem 30.
O joelho começa a pinicar, a perna sinaliza uma dor e a cabeça só quer saber quando vai acabar…
Assim que finalmente termina, e eu tenho que apenas caminhar por 100 metros (antes de voltar a pelejar), as pernas tremem, os pés latejam, a respiração está ofegante.
Só penso o seguinte: cadê a endorfina, o neurotransmissor que gera aquela sensação de bem-estar que os médicos e corredores dizem jorrar pelo cérebro após tanto suor? Calma, Ingrid!
“Correr é cansativo, e eu corro por necessidade, não porque adoro”, confessa Drauzio. “Mas, depois de começar a correr maratonas, eu nunca mais soube o que é sentir exaustão cumprindo as tarefas do dia”, crava o médico.
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Aí que está: como estou percebendo na prática, começar a correr pode não ser a coisa mais legal e gostosa do mundo. Mas, quanto mais você pratica, melhor fica a sensação com o passar do tempo. Palavra de quem se dedica ao exercício ou o estuda há anos!
E, se há um modo de se convencer a insistir nas passadas, é visualizar os benefícios no longo prazo.
Primeiro de tudo: correr nos afasta de problemas cardiovasculares. Isso acontece porque o coração se torna uma bomba mais forte e eficiente. É assim que ganhamos condicionamento físico, uma habilidade inestimável para quem quer viver bastante.
“Hoje está claro pela literatura científica que, se a gente tivesse que pegar apenas um dado para avaliar o estado de saúde de um indivíduo, deveria ser a capacidade física, o marcador mais ligado à qualidade e expectativa de vida”, afirma o cardiologista Silvio Póvoa, preceptor do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo.
“Exercícios aeróbicos como a corrida ainda ajudam a prevenir e controlar o aumento da pressão, do colesterol e dos triglicérides, bem como o diabetes”, prossegue o especialista em medicina esportiva.
A tal capacidade física é medida por meio de uma variável familiar aos corredores de longa data, o VO2 máximo, que representa quanto oxigênio o corpo consegue usar por quilograma de peso por minuto.
Ao elevar esse parâmetro, nosso coração agradece. “Existem evidências de que, a cada 3,5 pontos a mais de VO2 máximo, reduzimos a mortalidade por doenças cardiovasculares em até 14%. Quase nenhuma intervenção tem a magnitude de benefícios do exercício”, ressalta Póvoa.
A saber: o VO2 máximo é mensurado em exames como o teste ergométrico e pode ser inferido por alguns relógios esportivos de última geração.
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E veja só: mesmo quem corre por lazer, cumprindo uma cota de atividade física abaixo do preconizado pelas diretrizes — ao menos 150 minutos de exercícios moderados por semana —, já garante um grau de proteção contra os males que encurtam os anos pela frente.
Um clássico estudo de 2014, publicado pelo Colégio Americano de Cardiologia, descobriu que, a partir de cinco minutos de corrida por dia, mesmo em velocidades baixas (menos de 10 km/h), já se obtém uma redução na mortalidade precoce.
Fora a defesa do coração, uma investigação mais recente, nas páginas do periódico da Associação Médica Americana, associa a adesão à corrida a uma menor incidência de câncer.
“As pessoas precisam entender que, se a pressão, o colesterol ou os batimentos cardíacos estão bons, mas a capacidade física está ruim, existe, sim, um problema de saúde”, alerta Póvoa. “Só que, nesses casos, a solução não está em medicamentos, mas na indicação de um treino e na prática de exercícios aeróbicos”, completa o cardiologista.
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Corrida pelo bem da mente
Se o estado físico vibra com o movimento, a saúde mental também tem o que celebrar. “A liberação de endorfina provocada pela corrida, que é aquilo que faz você sentir prazer e alegria depois de um treino, gera bem-estar sem causar dependência. É o hábito mais positivo para a mente”, diz o psiquiatra Arthur Guerra, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Viciado em corrida? Bom, isso está mais para força de expressão. Ele mesmo adepto do esporte, Guerra conta que sua maior satisfação é correr ao lado de um paciente. “Indico a corrida a todos. Um dos momentos mais marcantes da minha carreira foi quando encontrei um paciente, ex-dependente alcoólico, completando uma prova. Sim, o esporte salva vidas!”, completa.
Se por um lado a corrida pode impor dores aos iniciantes ou aos experientes que estão aumentando o desafio, por outro pode ajudar a apagar desconfortos crônicos como a onipresente dor nas costas.
É o que revela um estudo da Universidade Monash, na Austrália, que avaliou um programa estruturado de corrida e caminhada entre adultos jovens com lombalgia frequente.
Após três meses de intervenção, contemplando três sessões semanais de 30 minutos, a turma que se exercitou relatou uma redução média de dor de 15 pontos em uma escala que vai até 100, em comparação ao grupo controle, que não se mexeu. O achado reforça o efeito positivo do movimento físico na contenção dos sintomas dolorosos.
“Só que boa parte da população ainda sofre de um problema chamado cinesiofobia: quem tem dor fica com medo de realizar qualquer atividade física achando que vai piorar seu sofrimento”, aponta o médico Daniel Oliveira, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
“Mas isso faz o indivíduo entrar num círculo vicioso de piora, levando a mais atrofia muscular e aumento da própria dor.” É preciso, portanto, romper com o senso comum e a inércia. Afinal, suar a camisa pode ter efeito analgésico.
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Faz sentido, inclusive porque práticas como a corrida tendem a lapidar um pilar do bem-estar, o sono.
Pare pra pensar: quem dorme mal, por anos a fio, está mais exposto a tudo que é problema de saúde. “Exercícios aeróbicos fortalecem as vias aéreas e a musculatura respiratória, e é a flacidez dessas estruturas que muitas vezes está por trás da apneia do sono”, observa o educador físico Marco Túlio de Mello, coordenador do Núcleo de Ciências do Esporte da Associação Brasileira do Sono (ABS).
“É por isso que as pessoas notam melhora do sono ao correr regularmente.” Não só: até a disposição no dia seguinte dá aquela guinada; afinal, a apneia semeia o cansaço. “Meu namorado parou de roncar depois de começar a correr. Agradeci muito”, conta Beatriz.

Quais são os riscos da corrida?
Nem tudo são flores nas passadas da corrida. Para angariar os indiscutíveis benefícios, é preciso ter disciplina, constância e contornar as famigeradas lesões.
O escritor japonês Haruki Murakami comenta, logo no prefácio de seu livro Do Que Eu Falo Quando Falo de Corrida (Alfaguara), que a dor do praticante é inevitável, mas sofrer é opcional: “Sentir dor é uma realidade inescapável, mas seguir ou não suportando cabe a cada corredor”.
O fato é que, ao contrário da caminhada, a corrida é um esporte de alto impacto, e isso é justamente o que distingue as duas modalidades: quando se anda, ao menos um dos pés está o tempo todo em contato com o solo na passada, o que não acontece ao correr.
“Na verdade, a corrida é uma sequência de saltos”, define o educador físico Felipe Nascimento, fundador do canal no YouTube e da assessoria esportiva Corrida Descomplicada. “E o maior impacto ocorre nas articulações, principalmente tornozelo, joelho e quadril, mais suscetíveis ao risco de lesão”, esclarece.
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As principais lesões dos corredores
Joelho:
- Tendinopatia Patelar: o famoso “joelho de corredor”. Ocorre por sobrecarga no tendão que liga a patela (osso do joelho) à tíbia (osso na frente da canela).
- Síndrome fêmoro-patelar: desgaste da porção superior do joelho, região que envolve a conexão da patela com o fêmur (osso da coxa) e o tendão patelar.
- Síndrome da banda iliotibial: inflamação do ligamento que une quadril e joelho. Causada por esforço repetitivo numa área não fortalecida.
Tíbia:
- Canelite: comum em corredores iniciantes que ainda fazem passadas muito longas e sobrecarregam a panturrilha. Exercícios específicos ajudam.
- Fratura da tíbia: ocorre por estresse e é uma consequência da canelite não tratada — a ponto de o osso quebrar. Daí é preciso parar de correr até sarar.
Pé e tornozelo:
- Fascite plantar: A fáscia, tecido que mantém a integridade do arco do pé, inflama por um alongamento excessivo ou pela rigidez da pisada.
- Entorse de tornozelo: lesão dos ligamentos que unem o pé à perna, pode ser causada por impactos repetitivos, rotação do pé ou desaceleração brusca
- Tendinopatia de Aquiles: o tendão de aquiles, no calcanhar, é alvo de um processo inflamatório e até degenerativo. Pode surgir ao elevar a velocidade da corrida.
Posterior de coxa:
- Danos nos tendões: três músculos compõem a região, e os tendões ali podem sofrer com inflamação, inchaço e hematoma, gerando dores e dificuldades.
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E como driblar essas lesões?
Será que há uma receita para fugir dos machucados? O fisioterapeuta Bruno Matoso, mestre em ciências do movimento pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), argumenta que o bom corredor é aquele que consegue gerenciar os impactos de forma eficiente, tanto para não enfrentar lesões como para ganhar performance.
Só que isso depende de vários fatores, sendo o primeiro deles a genética. “Em mais de 30 anos de corrida, eu nunca tive uma lesão grave que me fizesse abandonar o esporte, como muitos colegas mais jovens tiveram. E olha que eu comecei a correr tarde”, dá seu próprio exemplo o doutor Drauzio.
“Acredito que todo mundo é capaz de correr, mas penso que a maratona não é para quem quer, é para quem tem uma anatomia favorável a corridas longas”, diz o médico.
Nem tudo está no DNA, claro. Fatores modificáveis também contribuem para a proteção contra lesões, e a primeira medida nesse sentido é não cair nos mitos difundidos por aí, como a história de que o tipo de pisada — pronada (para dentro) ou supinada (para fora) — é o que faz toda a diferença para o exercício.
Na verdade, o pontapé para correr de forma segura envolve, além de exames médicos em dia, não escantear o treino de força. “Ter uma musculatura forte é o que vai proteger ossos e articulações do impacto das passadas”, resume Nascimento.
“A panturrilha é como se fosse o coração do corredor nas pernas, é o músculo que ajuda no retorno do sangue e que protege a tíbia. Então precisamos trabalhá-la sem esquecer o resto, como os músculos do quadríceps, o posterior da coxa, glúteo, core… Tudo isso nos dá estabilidade e sustentação adequada”, destrincha o professor pernambucano.
Para a máquina não pifar em trânsito, é recomendável aquecer antes da partida. “Mas é importante fazer um aquecimento dinâmico, não um simples alongamento estático, para mobilizar as articulações e não começar totalmente frio”, prescreve Nascimento.
Aos poucos, você eleva a temperatura corporal, acelera o coração e prepara a musculatura para a largada.
Antes desse momento, porém, há outro passo crucial: escolher um tênis adequado. A maior parte dos calçados voltados à modalidade tem um drop, ou seja, o calcanhar um pouco mais alto do que a parte posterior, o que ajuda e respeitar a biomecânica envolvida nesse esporte.
“Quando a pessoa está começando, ela quer um calçado que entregue tecnologia, conforto e tenha um bom custo-benefício, e esse é o princípio da nossa linha Corre”, ilustra Márcio Callage, diretor de marketing da Olympikus. “Por a corrida ser um esporte democrático, a escolha do tênis não pode pesar no bolso, e esse é nosso compromisso como marca brasileira”, completa.
O modelo tem feito sucesso: foi o tênis mais usado e bem avaliado pelos corredores do país, segundo levantamento do aplicativo Strava. Mas há diversas opções no mercado — e para todo tipo de corredor.
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De passo em passo, quando se fala em progressão nesse exercício, é unanimidade que manter uma cadência alta — cadência é a quantidade de passos que se dá por minuto — e não exagerar na amplitude de passada vão reduzir as chances de lesões.
A ciência explica: o corpo humano tem seu centro de gravidade próximo ao umbigo. Ao fazer a aterrissagem com o pé o mais próximo possível desse local (ou seja, mais perto do quadril), gerenciamos melhor o impacto.
“Quando o passo ocorre muito à frente, há uma resposta maior na frenagem, aumentando a sobrecarga nas articulações”, justifica Matoso.
Estima-se que a cadência ideal seja algo entre 160 e 190 passos por minuto, sendo 180 a referência. Mas, atenção, você não precisa ficar contando passos em movimento: uma boa técnica vem com orientação adequada e treino.
Prato de corredor
Por fim, para manter o pique e projetar metas maiores, tem que comer direito. Correr sem um aporte de proteínas adequado, por exemplo, gera perda de músculos, e isso é tudo o que não se quer ao praticar uma atividade física.
“A corrida é catabólica, então é essencial manter tudo ajustado. Com um volume maior de treino, suplementos como whey protein podem ser um aliado”, afirma a nutricionista esportiva Ághata Crystian, mestre pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).
“Mas, para os iniciantes, não precisa se preocupar com gel de carboidrato, maltodextrina, cafeína ou qualquer outro suplemento. Uma dieta bem pensada e equilibrada basta”, completa.
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Quero começar! Mas como?
Para quem conseguir, o ideal é procurar um suporte especializado para se aventurar na corrida e lidar com todas essas variáveis que influenciam o desempenho e a segurança.
“Numa boa assessoria esportiva, há o processo de avaliação do condicionamento, planejamento, prescrição e supervisão do treino, para que a pessoa alcance seus objetivos sem se machucar”, sintetiza Paulo Ricardo, fundador da ProRunner, a primeira assessoria especializada em corrida do Piauí.
Sendo ele mesmo um ultramaratonista, e já tendo preparado diversos atletas (como a campeã olímpica de judô Sarah Menezes), o instrutor garante que é melhor pecar pelo zelo e sempre respeitar o corpo.
“Comigo, quem começa do zero não começa correndo, mas andando numa intensidade maior. É preciso curtir e respeitar o processo de cada um. Eu mesmo só corri minha primeira maratona após 20 meias, e, quando resolvi fazer minha primeira ultra, já tinha corrido mais de 20 maratonas”, expõe o professor.
Nesse processo, um check-up cardíaco também é bem-vindo, principalmente na hora de acelerar as passadas.
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Caso você não tenha como investir em uma assessoria num primeiro momento, os aplicativos de corrida para celular quebram um galho.
“Eu precisava de uma rotina mais flexível de treinos por causa do trabalho, por isso não quis me comprometer com um treinador ou um grupo. Uso um app que prescreve treinos de corrida e de força de acordo com meu nível e objetivo”, dá seu depoimento o jornalista Guilherme Eler, corredor amador há dois anos. “Comecei no plano gratuito e depois de um mês paguei o anual porque vi que estava valendo a pena.”
Há uma ampla lista de aplicativos para baixar: Runna, Strava, Nike Run Club, Runkeeper, NHS Couch to 5K (este disponibilizado gratuitamente na Inglaterra pelo governo)… o que importa é começar!

Parece muita coisa para administrar? Se você pensar bem, nem é. Bastam alguns cuidados, um par de tênis e vontade.
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O novo boom da corrida
A corrida, definitivamente, vive seu melhor momento. Grupos engajados, eventos temáticos para todos os gostos e uma aura convidativa tornam esse universo muito mais atraente hoje em dia.
“Ela também é uma forma de interação social e geração de conteúdo. Tem muito influenciador falando sobre o tema, assim como pessoas normais postando treino no TikTok”, nota Daniel Krutman, CEO da Ticket Sports.
A empresa, que realiza a pesquisa Perfil do Atleta Brasileiro há oito anos, constatou que a modalidade é definitivamente a queridinha do momento: 87% das inscrições para eventos esportivos são para provas de corrida de rua. Ano passado, estima-se que foram realizadas mais de 150 mil dessas competições. “A gente está sendo muito mais estimulado a correr, como nunca aconteceu antes”, avalia Krutman.
Diante dos convites e das promessas em jogo, as marcas de produtos esportivos ampliam seu porftólio e o rol de experiências oferecidas à jornada do corredor.
Hoje você pode ir a um parque e experimentar modelos de tênis num treino de verdade, para assim decidir qual vai comprar.
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Buscando estreitar laços com esse público, a brasileira Olympikus não só patrocina dezenas de provas (foram 50 em 2024) como banca atletas, grupos de corrida e pesquisas para fomentar o segmento e desenvolver seus produtos em solo nacional.
E outras compartilham desse momento: a japonesa Asics, que tem na linha de tênis para corrida seu carro-chefe, fez mais de 60 ativações no país no ano passado, incluindo provas próprias e parcerias com grandes eventos, como a tradicional Corrida Internacional de São Silvestre.
“Para fortalecer ainda mais essa comunidade global, temos o projeto Frontrunners, que apoia um grupo diverso e eclético de 600 pessoas em 33 países, incluindo ultramaratonistas e aqueles que ainda estão nos 5 km”, conta Constanza Novillo, diretora de marketing da Asics para a América Latina.
Com uma demanda imensa — e um pé na moda —, novas marcas, como a suíça ON e a francesa HOKA (as duas com apenas 15 anos de existência), ganham espaço entre corredores dispostos a progredir e investir mais no calçado.
“O consumidor brasileiro ama um grande diferencial dos nossos produtos: a tecnologia aparente, as bolinhas na sola que deixam visível o potente amortecimento dos nossos tênis”, afirma Alexandre Martinez, diretor de marketing da ON Brasil.
“Estamos fazendo nosso nome: em 2024, patrocinamos as maratonas do Rio e de São Paulo, além de trazer a nossa atleta olímpica queniana Hellen Obiri para conhecer corredoras e treinar com a galera”, conta.
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Corrida virou hype, mas podemos dizer que é um modismo do bem. No último levantamento do Strava, uma das plataformas mais populares entre corredores, registrou-se um aumento de 109% no número de clubes de corrida no Brasil.
Mais: 55% dos praticantes consideram asconexões sociaiso principal motivo para se engajar no exercício.
“A gente vê as pessoas nas redes sociais fazendo tantas coisas legais em grupo, por que não podemos fazer também?”, indagou o consultor Pedro Nishio, de 29 anos, ao criar o clube Cool Kids para ele e amigos correrem juntos aos fins de semana no campus da USP.
Após anunciarem encontros abertos, começaram a receber um monte de gente que só queria uma turma para perder a vergonha de treinar sozinho.
Segundo as conclusões tiradas da pesquisa Por Dentro do Corre, a corrida é uma escola, e exige tempo, paciência e dedicação, mas também é capaz de transformar vidas.
E isso se aplica tanto a quem busca simplesmente abandonar o sedentarismo como a quem passa por uma adversidade, como ocorreu com a contadora Bruna Coelho, de Sorocaba (SP). Aos 30 anos, ela precisou realizar uma mastectomia bilateral: retirou as duas mamas de forma preventiva após enfrentar o câncer em um dos seios.
A situação toda fez sua vida desandar, e, descontando o estresse na comida, ela chegou a pesar 107 quilos. “Eu buscava um lugar para me encontrar e retomar minha saúde, mas não achava. E ainda estava sem os seios, com muito receio de ser julgada”, lembra. Até que ela conheceu o grupo Divas Que Correm.
“Quando cheguei ao treino, tinha mulher careca, sem braço, com todos os corpos diferentes. Não importava se eu tinha ou não tinha peito, se era rica, pobre, gorda ou magra, ali éramos todas divas correndo”, conta Bruna, que, hoje é a líder nacional dessa comunidade que une 120 mil brasileiras.
“Minha vida mudou com a corrida. E fico feliz de ver a popularidade desse esporte crescer pelo potencial de melhorar a vida de mais e mais mulheres”, diz a cabeça do grupo.
E aí? Já está botando o tênis no pé?
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