As campanhas de conscientização sobre câncer…

Todos os anos, são realizadas diversas ações de conscientização sobre diferentes tipos de câncer e vemos uma ampla paleta de cores distribuídas ao longo dos meses. Um legado de disseminação de informação que começou com a Fundação Susan G. Komen, que deu luz à primeira campanha mundialmente conhecida, o Outubro Rosa, de conscientização sobre câncer de mama.

Hoje, para citar algumas efemérides associadas com tumores de alta incidência entre os brasileiros, temos o Agosto Branco (pulmão), Março Azul-Marinho (intestino grosso/cólon), Julho Verde (cabeça e pescoço), Setembro em Flor (colo do útero e outros cânceres ginecológicos), Novembro Azul (próstata) e Dezembro Laranja (pele).

Mas quando olhamos para este arco-íris anual de temas sobre câncer, enxergamos um resultado, de fato, efetivo? Tendo como base a informação disseminada com correção, a resposta é sim.

Um exemplo é o câncer do colo do útero, tumor ginecológico mais comum entre as brasileiras, com 17 mil novos casos anuais.

É conhecido o caminho que, aspiramos que em poucos anos, permitirá o cumprimento da meta de eliminação desta doença, estabelecida pela Organização Mundial da Saúde: 90% das meninas de 9 a 14 anos vacinadas contra o HPV, 70% das mulheres de 35 a 45 anos com teste de HPV-DNA e 90% das mulheres com lesões iniciais devidamente tratadas.

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Como reflexo direto da campanha Setembro em Flor, por exemplo, o país avançou bastante em 2024, com destaque para o teste molecular HPV-DNA tendo sido incorporado no SUS e a vacina contra HPV retornando para as escolas públicas e privadas.

Como exemplo do impacto positivo das campanha de awareness, em artigo publicado no International Journal of Gynecological Cancer, nós mostramos que há correlação direta entre acesso ao conhecimento, buscas por mais informações e mais pessoas recebendo vacina contra HPV.

Os dados, extraído do Google Trends, combinados com estatísticas de cobertura vacinal, ilustram a natureza cíclica do interesse público e das respostas das políticas de saúde. Os picos na atividade de pesquisa muitas vezes coincidem com anúncios de saúde ou mudanças políticas.

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Por sua vez, a falta de informação gera um impacto negativo no cuidado com a saúde. Na revista científica Social Science & Medicine, os autores mostram que apenas 6% e 5,1% das adolescentes e jovens adultas do Quênia realizam o rastreamento de câncer de mama e do colo do útero, respectivamente, algo diretamente correlacionado à falta de acesso a jornais.

Em trabalho no JAMA Oncology, pesquisadores de instituições estadunidenses mostram que a redução do tabagismo e a adoção de estratégias de rastreamento voltadas para diagnóstico mais precoce contribuíram para evitar 4,75 milhões de mortes por câncer de mama, colo do útero, colorretal, pulmão e próstata nos Estados Unidos entre 1975 e 2020.

Sim, prevenir e diagnosticar mais cedo reduz mortalidade. Conscientizar a população gera, de fato, resultado positivo. Sigamos assim, em cores vivas.

*José de Moura Leite Netto, jornalista e pesquisador, doutor em Ciências com ênfase em Oncologia pelo A.C.Camargo Cancer Center e diretor/fundador da SENSU Consultoria de Comunicação

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