Chip hormonal: o que é e quais os riscos do…

O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça (25) que está fazendo uso de chip hormonal, após ser questionado sobre seu desempenho sexual durante uma entrevista ao jornalista Léo Dias.

O “chip” é um nome popular para o implante hormonal manipulado, uma terapia controversa, criticada por dezenas de sociedades médicas e pela Associação Médica Brasileira (AMB).

Embora seja mais famoso como “chip da beleza“, produto destinado ao público feminino, ele também é usado nos homens, em geral com testosterona ou algum de seus derivados, com promessas de garantir mais disposição e melhorar a vida sexual.

Mas será que isso faz sentido?

O urologista Fernando Facio Jr., chefe do departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) destaca dois problemas da estratégia. “Primeiro, o chip não é aprovado para uso como reposição hormonal. Segundo, a função erétil não depende somente da testosterona”, explica.

Outro ponto é o risco embutido na prescrição indevida de testosterona, em especial o perigo para o coração. “Todo homem quer ficar mais potente, mas nenhum quer infartar“, crava o endocrinologista Clayton Macedo, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

O que é o chip hormonal?

Trata-se de uma formulação que pode incluir hormônios, vitaminas, suplementos alimentares e até mesmo medicamentos, compilados em um tubinho pequeno, de poucos centímetros, inserido no glúteo ou em outro local do corpo.

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O carro-chefe são os hormônios anabolizantes, como a testosterona e seus derivados. Durante meses, os implantes liberam as substâncias no organismo. Depois, são retirados ou absorvidos pelo próprio corpo.

Os implantes não passam por aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já que estão em um limbo regulatório.

Em tese, as farmácias de manipulação podem produzir remédios em formas diferentes das encontradas nas farmácias, para atender a demandas específicas dos pacientes.

Por exemplo, um medicamento em gotas para um bebê que não consegue tomar um comprimido. “Só que isso se transformou em um comércio lucrativo“, aponta Macedo.

Hoje, as farmácias de manipulação produzem implantes com qualquer substância que já tenha sido registrada pela Anvisa, mesmo que esse registro já tenha expirado — como é o caso da oxandrolona e da gestrinona, que costumam ser prescritas em manipulados — e que o uso seja para fins diferentes dos propostos no registro.

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Diferente de um medicamento convencional, esses produtos não passam por testes de eficácia e segurança e sequer é possível garantir o que há dentro deles, visto que não há um controle de lotes ou bula.

Os implantes são vendidos pelas farmácias aos médicos, que por sua vez os revendem aos pacientes nos próprios consultórios, a um preço que chega a milhares de reais.

No caso dos implantes hormonais com esteroides anabolizantes, a Anvisa exige justificativa médica, retenção de receita e notificação à entidade para cada produto comercializado.

+Leia também: A febre dos hormônios: cresce uso indevido de testosterona e companhia

Riscos do uso indevido de testosterona

Alguns homens de fato precisam repor testosterona para tratar o hipogonadismo, deficiência comprovada do hormônio. Essa reposição foca em manter o hormônio em níveis normais. “Taxas elevadas, ou suprafisiológicas, são condenadas pela literatura porque o risco é maior que o benefício”, pontua Macedo.

O primeiro revés de usar testosterona em quem não tem deficiência é o bloqueio da produção do próprio homem, que pode levar à atrofia dos testículos e à dependência.

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Outra questão importante é o perigo para o coração. Um estudo recente, publicado no periódico Circulation, aponta para um risco até três vezes maior de infarto entre quem faz uso de anabolizantes. Arritmias, trombose e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) também podem dar as caras.

“Esse é um aspecto importante, porque os eventos cardiovasculares surgem depois de um certo tempo de uso”, comenta Macedo.

Para o fígado também há alertas, como o risco de hepatite medicamentosa e câncer no órgão. E o cérebro sofre. “A testosterona aumenta a agressividade, a ansiedade e exacerba alterações psicológicas já existentes”, destaca o endocrinologista.

+Leia também: Uso de anabolizantes aumenta em quase três vezes o risco de morte

Todo homem precisa repor testosterona?

Tem sido amplamente difundida na internet a ideia de que homens na meia idade precisam de testosterona porque os níveis caem a partir dos 30 ou 40 anos. Só que isso não é bem verdade. 

Uma quantidade muito pequena deles terá deficiência do hormônio. Os estudos variam entre 10 e 20% na população acima dos 60 anos. Abaixo disso, a incidência de hipogonadismo é menor ainda.

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E não basta dosar o hormônio no sangue e ele estar baixo. “O homem precisa ter sintomas, sendo os mais frequentes o baixo desejo sexual, cansaço e irritabilidade”, epxlica Luiz Otávio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). 

Vale destacar que faz parte do tratamento identificar outras causas para a queda nos níveis do hormônio, como a obesidade, o estresse crônico e o sedentarismo.

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