Como baixar o colesterol? Especialista explica
Em um fim de tarde, José (nosso personagem fictício nesta jornada) retorna de uma visita de rotina ao seu médico, trazendo os resultados de exames que revelaram que ele estava com o colesterol alto.
Surpreso, José, que se considera ativo e sempre atento à sua alimentação, quer entender o que houve, e como pode direcionar seus esforços para controlar esse vilão silencioso. Assim como ele, muitos buscam respostas sobre como equilibrar os níveis de colesterol de forma eficaz, unindo ciência e prática no dia a dia.
Inicialmente, é importante destacar que o colesterol é uma substância gordurosa vital para diversas funções corporais, mas que, em desequilíbrio, pode se tornar uma das principais causas de doenças cardiovasculares, como infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
A questão envolve não apenas o LDL, conhecido como “colesterol ruim” ou “Logo Deus Leva”, causador dos problemas, mas também o HDL, o “colesterol bom”, imprescindível na prevenção de depósitos de gordura nas artérias.
Diante da preocupação de José, seu médico traça um plano para reduzir esses níveis de forma natural, pois, assim como milhares de brasileiros, José não gosta da ideia de tomar medicamentos.
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Plano alimentar: o ponto de partida
Um plano alimentar equilibrado é a base sólida sobre a qual se constrói a jornada de controle do colesterol. Alimentos ricos em fibras são cruciais nessa abordagem.
Opções como maçã, pera, brócolis, cenoura, aveia e quinoa funcionam como verdadeiras “vassouras”, removendo o excesso de colesterol da circulação e facilitando sua eliminação. Esses alimentos não apenas ajudam a reduzir o colesterol LDL, mas também proporcionam saciedade e auxiliam no controle de peso.
Paralelamente, é essencial observar com atenção os alimentos a evitar. Carnes gordurosas, frituras e alimentos industrializados estão repletos de gorduras saturadas e trans, que podem ser comparadas a pedras no caminho da saúde cardiovascular, obstruindo as artérias e dificultando o fluxo sanguíneo adequado.
Em vez disso, prefira carnes magras, como frango e peixe, além de métodos de preparo mais saudáveis, como assados e grelhados, em vez de frituras.
Para complementar, incorpore alimentos que combatem diretamente o colesterol. O abacate, rico em gorduras monoinsaturadas, é um excelente exemplo, ao lado de nozes e sementes, que são fontes poderosas de ômega-3. O azeite de oliva extravirgem também se destaca como um verdadeiro elixir para o coração.
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Atividade física
Se a alimentação é a base, a atividade física representa o pilar que sustenta o plano de controle do colesterol. Recomenda-se pelo menos 150 minutos de atividade aeróbica moderada por semana, que podem ser alcançados com caminhadas rápidas, ciclismo, natação ou até mesmo dança.
José encontrou prazer em seus passeios ao ar livre, começando com pequenas caminhadas e aumentando gradativamente a intensidade. O resultado foi não apenas a melhoria dos níveis de colesterol, mas também um aumento na disposição diária e na energia.
Além dos exercícios aeróbicos, incorporar treinos de resistência também é importante. Esses exercícios ajudam a fortalecer a musculatura e contribuem indiretamente para o controle do colesterol, promovendo um metabolismo mais eficiente e uma melhor composição corporal.
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Controle do peso
O excesso de peso pode aumentar o LDL e diminuir o HDL, desregulando o equilíbrio metabólico. Estratégias simples de controle calórico são recomendadas, como atentar-se ao tamanho das porções e optar por alimentos mais nutritivos e menos calóricos.
José aprendeu a perceber os sinais de fome e saciedade, distinguindo entre fome física e emocional, o que o ajudou a fazer escolhas alimentares mais conscientes e saudáveis.
Hábitos de vida
Os hábitos diários que cultivamos são como tijolos na estrutura da nossa saúde. Fumar, por exemplo, é um tijolo danificado que deve ser removido, pois reduz o HDL e aumenta significativamente o risco de doenças cardiovasculares.
Da mesma forma, moderar o consumo de bebidas alcoólicas é fundamental, já que o álcool, em excesso, pode elevar os níveis de triglicerídeos e prejudicar o controle do colesterol.
José, que fumava socialmente, decidiu parar completamente e reduziu drasticamente a bebida, o que impactou positivamente seus marcadores de saúde.
Influência genética
Após meses adotando todas as medidas possíveis, ao realizar novos exames de controle, José se deparou com resultados frustrantes. Seu médico informou que o colesterol não estava controlado o suficiente para reduzir risco cardiovascular, e que possivelmente outro fator poderia estar contribuindo para esse descontrole.
Foi então que José conheceu uma outra realidade, a influência genética.
A genética desempenha um papel significativo nos níveis de colesterol. Algumas pessoas têm predisposições que tornam o controle mais difícil. A hipercolesterolemia familiar é um exemplo disso, condição em que mutações genéticas resultam em altos níveis de LDL desde a infância.
José se vê, então, diante de um novo aliado: o teste genético. Essas avaliações oferecem clareza sobre a presença de mutações genéticas e possibilitam diagnósticos precoces, permitindo a implementação de estratégias personalizadas.
Assim como José, outras pessoas nessa situação são orientadas a buscar aconselhamento genético, especialmente quando há um histórico familiar de colesterol elevado ou doenças cardiovasculares precoces.
Medicamentos
Para aqueles como José, em quem as mudanças de estilo de vida não são suficientes, a medicina moderna oferece alternativas.
As estatinas, por exemplo, são frequentemente recomendadas para reduzir a produção de colesterol no fígado. Apesar de muita desinformação circulando nas redes, elas continuam sendo a principal arma medicamentosa contra o colesterol.
José aprende sobre os diversos tipos de estatinas, cada uma com sua potência e dosagem, permitindo um tratamento adaptado às suas necessidades.
No entanto, casos mais desafiadores podem exigir abordagens mais inovadoras. O ácido bempedoico, ainda não disponível no Brasil, aparece como uma opção promissora para pacientes que não respondem bem às estatinas. Esse medicamento atua em uma etapa diferente no fígado, reduzindo o colesterol sem alguns dos efeitos colaterais associados às estatinas tradicionais.
Além disso, os inibidores de PCSK9 representam um avanço notável, especialmente para aqueles geneticamente predispostos ou com hipercolesterolemia familiar. Esses inibidores aumentam a capacidade do fígado de eliminar o LDL do sangue.
Independentemente da abordagem escolhida por José e outros pacientes, o acompanhamento médico regular é essencial. Um profissional de saúde não só monitora os níveis de colesterol, mas também avalia outros fatores de risco e adapta o tratamento conforme a resposta de cada indivíduo.
Assim, José transforma sua experiência com o colesterol em um compromisso contínuo com a saúde. Um testemunho vivo de que, com educação, acompanhamento e tratamento adequado, controlar o colesterol é um objetivo alcançável e essencial para uma vida boa e longa.
*Rodrigo A. Souza é doutor em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e médico assistente do Hospital do Coração do Pará.
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)