Histeria: entenda o diagnóstico controverso…

Descrever a personalidade de alguém como “histérica” não é apontar algum traço de desequilíbrio emocional, mas fazer referência a uma controversa condição psíquica: a histeria.

A história da histeria é tão antiga que o termo já era usado no tempo de Hipócrates, o médico grego do século V a.C. considerado “pai da medicina”. Nessa época, o quadro era considerado exclusivamente feminino e relacionado ao útero. Essa teoria foi desmentida depois, com ajuda da medicina moderna e das teorias da psicanálise de Sigmund Freud, mas o estigma machista ficou.

Hoje, não se fala mais em histeria, mas em transtorno de personalidade histriônica. Embora seja considerado um transtorno de personalidade pelos psiquiatras, o diagnóstico é complexo e individualizado: por isso, se você se identificar com algum comportamento listado como sintoma, não significa que você tenha um transtorno.

Para ser enquadrado nessa categoria, o padrão de comportamentos não pode ser explicado por outras causas físicas ou psíquicas, e deve trazer sofrimento e prejuízo à vida da pessoa.

Saiba mais sobre as origens e a definição atual de histeria.

O que é histeria?

Atualmente, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – documento de referência para diagnósticos psiquiátricos, mais conhecido pela sigla DSM – considera a histeria um transtorno de personalidade.

O termo oficial para a condição é transtorno de personalidade histriônica, que é definida como um padrão de comportamentos de busca de atenção em excesso. 

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Os transtornos de personalidade afetam a maneira como a pessoa pensa e se relaciona consigo mesmo e com os outros, e podem gerar sofrimento psíquico. Esses quadros psiquiátricos influenciam a cognição, a afetividade e o controle de impulsos.

Origens da histeria

A palavra histeria vem do grego – no idioma, o termo significa “útero”. Na antiguidade, Hipócrates definia a histeria como uma doença que afetava apenas mulheres e ocorria devido a um suposto fluxo de sangue do útero para o cérebro.

Hoje parece bastante óbvio que isso não acontecia, mas foram necessários séculos para investigar a histeria a fundo e deixar de tratá-la como um “problema de mulheres”.

No século 19, o neurologista francês Jean-Martin Charcot se dedicou ao estudo desse quadro. Sigmund Freud, o criador da psicanálise, seguiu estudando os mecanismos da histeria, considerada uma condição em que problemas psíquicos se manifestavam como sintomas físicos. Foi nessa época que se chegou à conclusão de que esta não era uma doença só de mulheres.

Na década de 1980, o transtorno de personalidade histriônica foi incluído no DSM, junto de outros distúrbios que contém sintomas do que antes era considerado histeria. A psicanálise ainda usa o termo neurose histérica, mas não na forma de um diagnóstico psiquiátrico.

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+Leia também: Freud & cia no divã: os debates atuais sobre a psicanálise

Sinais do transtorno

O DSM delimita um conjunto de sintomas relacionados ao transtorno de personalidade histriônica

  • Busca de atenção em excesso: a pessoa se sente desconfortável quando não é o centro das atenções e pode criar situações dramáticas para chamar atenção para si;
  • Interação interpessoal marcada por comportamento sexual excessivo mesmo em contextos inapropriados – ou seja, até em situações que não são direcionadas a parceiros românticos ou sexuais;
  • Flutuação rápida das emoções;
  • Expressão dramatizada e teatral, mas superficial das emoções;
  • Ser facilmente influenciado pelos outros e pelas circunstâncias;
  • Considerar relações interpessoais mais íntimas do que realmente são. 

Para que alguém seja diagnosticado com um transtorno de personalidade, os sintomas não podem ser explicados por outro distúrbio mental, por abuso de substâncias ou por uma condição física. 

Exibir um, ou mesmo vários desses traços, não significa que a pessoa tenha um transtorno de personalidade. Um transtorno é um padrão de comportamentos duradouro, inflexível, e que leva a prejuízos e sofrimento em áreas importantes da vida.

Causas para o transtorno

Como acontece com qualquer distúrbio de ordem psíquica, não é possível indicar uma causa específica para o quadro. Algumas alterações psiquiátricas podem ter origem em questões físicas, como intoxicação, traumas no cérebro ou uso de substâncias.

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Mas esse não é o caso quando se trata de transtornos de personalidade. O padrão de comportamento costuma surgir no final da adolescência ou no início da vida adulta, e seguem afetando o indivíduo ao longo de toda a vida.

Os transtornos de personalidade também podem estar acompanhados de quadros como ansiedade, depressão e dependência de substâncias. 

Existe tratamento?

Não há cura para transtornos de personalidade. Os cursos de tratamento são variados, e não focam no transtorno em si – não há um “padrão ouro” para o transtorno histriônico, por exemplo. 

A abordagem dos profisionais da saúde é direcionada para o sofrimento específico do paciente. O mais recomendado, portanto, é buscar acompanhamento com psiquiatra e psicólogo. 

Justamente por isso, não existem medicações indicadas diretamente para tratar o transtorno de personalidade histriônica. Remédios podem ser receitados para manejar sintomas, como ansiedade e depressão, que podem estar presentes, ou para controle de humor.

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Vale lembrar que o próprio diagnóstico é bastante subjetivo e depende do psiquiatra ou psicólogo. 

 

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