Melatonina: o que é e para que serve
Conhecida como “hormônio do sono”, a melatonina é um hormônio produzido no centro do cérebro de humanos e outros animais. Ela tem um papel fundamental no funcionamento do nosso relógio biológico, sinalizando para o corpo quando é hora de desacelerar o ritmo e dormir.
Mesmo com seu efeito hipnótico, a melatonina não é recomendada para sanar qualquer tipo de distúrbio do sono.
“Ela é indicada para o tratamento de problemas relacionados à ritmicidade circadiana, isto é, quando o nosso ciclo de sono-vigília está dessincronizado dos períodos de dia e noite”, explica John Fontenele Araújo, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e membro da Academia Brasileira do Sono (ABS). “Isso acontece muito quando vamos viajar e sofremos com o jet lag.”
Para driblar esses sufocos, a suplementação de melatonina pode ser recomendada por um médico. Atualmente, a substância é vendida livremente, mas a automedicação é desaconselhada.
“Ela não trata qualquer problema de sono e o consumo abusivo pode inibir a produção natural do nosso corpo”, alerta Araújo.
A seguir, entenda como o hormônio é produzido, quais são as suas indicações e por que não se deve tomá-lo por conta própria.
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O que é a melatonina?
A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal, que fica localizada no centro da nossa cabeça, próxima ao encéfalo.
A substância começa a ser liberada ao anoitecer e nos ajuda ajuda a cair no sono. Ela é produzida ao longo de toda a noite, enquanto estamos dormindo. Por isso, foi apelidada de “hormônio do sono” e de “hormônio da noite”.
Como é produzida?
A produção de melatonina pelo nosso corpo começa pela alimentação. Isso porque o hormônio deriva do triptofano, um aminoácido essencial que é obtido exclusivamente através da comida.
“Quando ingerimos o triptofano, um grupo de células o transforma em serotonina [hormônio relacionado à sensação de satisfação e bem-estar] e outro, lá na glândula pineal, converte a serotonina em melatonina“, explica o professor da UFRN.
Frutas (como banana, abacate e mamão), legumes (como grão-de-bico e lentilha), sementes, nozes, castanhas, ovos, carnes vermelhas, leite e derivados são alguns dos alimentos ricos em triptofano. Por ser um aminoácido tão abundante, a necessidade diária geralmente é suprida pela dieta.
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Além da alimentação, outro fator importante para a produção de melatonina é a luz. Quando a luz para de incidir sobre os nossos olhos, a retina sinaliza que é noite para uma região do cérebro chamada de núcleo supraquiasmático, mais conhecida como “relógio biológico“.
É essa região que regula o funcionamento da glândula pineal e, sob a ausência de luz, ela estimula a glândula a produzir a melatonina.
“Quando chega a noite, há duas coincidências: a ausência da luz e o próprio ritmo endógeno do nosso relógio biológico. Os neurônios do núcleo supraquiasmático deixam de ser ativados pela luz e estimulam a pineal a produzir melatonina a noite toda“, afirma o neurocientista.
Telas atrapalham a melatonina?
Com o advento da eletricidade, começamos a ficar ativos também durante a noite e, hoje, temos muitas telas à disposição o tempo todo — o que pode prejudicar a produção de melatonina.
“A exposição a telas pode atrasar o início da liberação de melatonina e, com isso, nossa percepção de que é hora de ir dormir”, avisa Araújo.
Um detalhe é que a maior parte das telas emite luz azul, que é captada por células ganglionares da nossa retina, responsáveis por sinalizar ao relógio biológico de que ainda não é hora de produzir melatonina.
“Embora a luz do nosso celular não seja de alta potência, ela tem, coincidentemente, a exata frequência de onda que ativa essas células e inibe a produção do hormônio do sono”, completa.
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Para que serve?
A melatonina é importante para preparar o corpo para a transição do estado de vigília (no qual estamos acordados) para o de sono, mantendo os órgãos menos ativos e mais relaxados enquanto dormimos.
O hormônio também reforça o funcionamento do nosso relógio biológico e, por conseguinte, potencializa a produção da própria melatonina.
Além disso, ela também tem um papel na reprodução e reserva de energia em animais, especialmente aqueles que vivem nos polos do planeta e hibernam por meses a fio.
Suplementos de melatonina
Segundo o representante da Academia Brasileira de Sono, há, sim, uma diferença entre a melatonina produzida naturalmente pelo nosso corpo e aquela que é encontrada à venda nas farmácias.
“A glândula pineal mantém a produção do hormônio equilibrada durante toda a noite. Já quando tomamos uma pílula, recebemos uma grande dose de melatonina de uma vez, que é rapidamente metabolizada pelo organismo. Há um pico e, depois, uma queda brusca nos níveis do hormônio, o que não é o cenário ideal”, esclarece o neurocientista e médico.
Por isso, as pessoas devem evitar consumir suplementos de melatonina por conta própria.
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Quais são as indicações do suplemento?
A principal indicação da suplementação de melatonina é para casos em que o indivíduo quer evitar os efeitos do jet lag.
“A suplementação serve para antecipar o relógio biológico da pessoa”, diz Araújo. “Antes de ir viajar, recomendamos que ela tente dormir uma hora antes do usual, tomando melatonina uma hora antes do horário de dormir. Isso é feito por alguns dias, a depender do fuso horário para o qual ela está indo”.
Ao chegar ao destino final, será mais fácil se adaptar ao horário local. Nesse caso, o uso é pontual.
A suplementação de uso contínuo é recomendada a poucos indivíduos, como aqueles que são totalmente cegos (e, portanto, não tem percepção da luz), os que perderam a glândula pineal (por tumoração ou calcificação) e os que possuem outras lesões cerebrais, como idosos com diferentes tipos de demência (eles também sofrem com o desequilíbrio do ritmo circadiano).
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Além disso, a suplementação também pode ser indicada a crianças com paralisia cerebral e transtorno do espectro autista (TEA), pois essas condições podem ser acompanhadas por um ciclo de sono-vigília desajustado.
“A produção de melatonina depende principalmente da exposição à luz solar, do ritmo de alimentação, de atividade física e de interação social. Esses grupos podem não ser suficientemente expostos a todos esses fatores, o que prejudica a regularidade do ritmo circadiano”, explica Araújo.
Por isso, a suplementação deve ser considerada e feita de forma contínua nesses casos.
O neurologista é o médico especialista em lidar com problemas de sono e pode orientar qual tratamento é melhor para cada queixa. De forma geral, a melatonina é indicada distúrbios da ritmicidade circadiana, como os exemplificados acima.
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Riscos e contraindicações
A melatonina não deve ser suplementada durante a puberdade, porque ela atrasa o amadurecimento dos hormônios sexuais.
Ela também não serve para tratar insônia, problema que é resolvido com outras abordagens, como a adoção de hábitos de higiene do sono, terapia comportamental-cognitiva e medicamentos que vão de ansiolíticos a drogas Z.
“Quando a melatonina foi lançada como produção na virada dos anos 1980 para os 1990, ela era considerada uma panaceia para os distúrbios do sono, mas hoje sabe-se que seua uso deve ser restrito”, pontua o professor da UFRN.
Por muio tempo, sua comercialização foi proibida no Brasil, até que, em 2021, foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O hormônio não é considerado um medicamento, mas um suplemento alimentar.
“Isso quer dizer que a sua produção não passa por uma fiscalização rigorosa como a de remédios, então, muitos produtos que chegam ao mercado sequer são melatonina“, ressalta Araújo. “Esse hormônio é muito sensível, o que torna mais difícil de reproduzi-lo industrialmente, pois a molécula pode quebrar caso seja exposta à luz, por exemplo”.
Além disso, tomar melatonina por conta própria pode inibir a produção do hormônio pelo próprio corpo. “A pessoa toma uma alta concentração em um dia e a pineal pode passar a entender que já produziu o suficiente do hormônio e não liberar mais melatonina no organismo. É o efeito rebote”, alerta.
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