Uso de maconha a longo prazo pode prejudicar…

Um estudo conduzido em universidades do Canadá e dos Estados Unidos revelou que o uso prolongado de maconha pode afetar a forma como o cérebro desempenha suas funções, em especial, as relativas à memória de trabalho – a capacidade de reter e usar informações para executar tarefas.

Pouco mais de mil pessoas, com idades entre 22 e 36 anos, foram avaliados a partir de informações coletadas entre 2012 e 2015. A base de dados inclui imagens de ressonância magnética, que registraram a resposta neurológica a testes de funções cognitivas de emoção, recompensa, capacidade motora, memória de trabalho, linguagem, raciocínio lógico, mentalização e habilidades sociais.

Exames toxicológicos de urina permitiram identificar quem havia feito uso recente de maconha. Em um questionário, os participantes informaram a idade com a qual usaram a substância pela primeira vez, relataram a frequência de consumo, e responderam sobre a ingestão de álcool e exposição à nicotina. Os resultados foram publicados na revista científica JAMA na terça-feira, 28.

Como o uso frequente de maconha afeta o cérebro?

Os indivíduos incluídos no estudo foram avaliados de acordo com a quantidade de vezes que haviam consumido maconha:

  • Pessoas com menos de 10 usos foram consideradas não-usuárias;
  • quem usou a droga de 11 a 999 vezes foi considerado usuário moderado;
  • já quem afirmou ter utilizado mais de mil vezes foi classificado como usuário intensivo.

O uso recente foi levado em conta no momento da análise dos resultados. Os participantes agrupados como usuários intensivos apresentaram atividade cerebral reduzida em determinadas áreas do órgão durante os testes.

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De acordo com os pesquisadores, essas são regiões com densidade maior de receptores de canabinoides, compostos químicos presentes na cannabis. Esse conjunto de pessoas também teve uma performance pior nos testes de memória de trabalho.

A associação continuou estatisticamente significativa quando os cientistas removeram do conjunto os dados de quem havia usado maconha recentemente, demonstrando que há uma relação entre o uso prolongado da droga e a função da memória.

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O que é memória de trabalho?

De acordo com o mecanismo de armazenamento das informações, as funções da memória podem ser classificadas de diferentes formas. A memória pode ser de curto ou longo prazo, por exemplo.

Já a memória de trabalho é a que permite reter informações úteis a curto prazo, seguir instruções, executar planos e coordenar mais de uma atividade simultaneamente. É a memória utilizada para resolver um problema matemático, por exemplo, ou para ler um texto.

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“À medida que o uso de cannabis continua a crescer globalmente, estudar seus efeitos na saúde humana se tornou cada vez mais importante. Ao fazer isso, podemos fornecer uma compreensão completa dos benefícios e riscos do uso, capacitando as pessoas a tomar decisões informadas e compreender completamente as potenciais consequências”, disse o primeiro autor do estudo, Joshua Gowin, professor assistente de radiologia na Escola de Medicina da Universidade do Colorado, em nota.

Novos estudos

Os cientistas responsáveis pela investigação sublinharam as limitações da pesquisa: por ora, não se sabe se e como as funções cognitivas podem ser restauradas após um período de abstinência da maconha. Os participantes não informaram se eram adeptos ou ex-usuários, o que não permite revelar se o tempo sem uso da droga normaliza a função de memória alterada, por exemplo.

O estudo tampouco considerou a dose de maconha ou o uso de outras substâncias, como opioides, devido à sensibilidade dos testes empregados.

É importante levar em conta que o tipo de estudo realizado foi observacional. Ou seja, não é possível atribuir uma relação de causa e efeito entre o uso da droga e o resultado dos testes cognitivos. Condições de ordem psicológica que podem afetar os resultados dos participantes nas avaliações, como o transtorno de déficit de atenção (TDAH), não foram avaliados.

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Assim, futuras pesquisas serão necessárias para investigar ainda mais profundamente a relação do uso de drogas com as funções cognitivas. O cérebro não atua de forma independente, mas desempenha várias tarefas interrelacionadas concomitantes, assim, novos resultados podem apontar para os efeitos dos psicoativos de maneira mais complexa.

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