Como as mudanças climáticas impactam a saúde…
Os efeitos das mudanças climáticas poderão desencadear até 250 mil mortes em todo o mundo entre 2030 e 2050, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Durante o 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, realizado em São Paulo, especialistas em climatologia e saúde pediátrica discutiram sobre como as alterações podem interferir na qualidade de vida das crianças a curto, médio e longo prazos.
Uma criança nascida em 2020 deverá vivenciar cerca de 30 ondas de calor ao longo dos anos, situação à qual o corpo humano não está preparado para suportar, destacou no encontro o climatologista Carlos Nobre.
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Para aprofundar o tema, conversamos com a médica Fátima Fernandes, responsável pelo Serviço de Alergia e Imunologia do Sabará Hospital Infantil, diretora do Instituto de Pesquisa PENSI Sandra Mutarelli Setúbal e presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
Quais são as principais doenças respiratórias causadas pelas alterações climáticas?
Fátima Fernandes: De certa forma, toda a parte respiratória pode ser impactada. Doenças como as alérgicas, bronquiolites, tosse prolongada e pneumonia ficam mais frequentes nas crianças com idades até dois anos de idade. Mas existem outros problemas que não são tão perceptíveis a curto prazo e que também são preocupantes.
E quais seriam essas doenças?
A médio e longo prazos os danos para a saúde das crianças podem ser ainda mais acentuados. Os primeiros cinco anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento e muitas substâncias que são poluentes estão inseridas no ar, como chumbo, amianto, radônio e microplásticos que podem prejudicar seriamente a formação pulmonar, imunológica e até neurológica.
Estados que têm oscilado entre grandes períodos de seca e inundações. O que isso pode trazer para as crianças de uma maneira geral?
Alguns pontos precisam ser observados nesse aspecto. Quando esses dois extremos acontecem, prejudicam diretamente a agricultura e, consequentemente, toda a qualidade de alimentação e, consequentemente, a nutrição de toda uma família.
Além disso, a água potável também fica comprometida, o que pode expor os menores aos quadros de desnutrição e doenças gastrointestinais como diarreia e cólera, que são causas graves de mortalidade. Além disso, essas alterações climáticas também aumentam a proliferação de vetores que transmitem doenças epidêmicas como a dengue e a febre amarela.
Durante a pandemia, tivemos um aumento de crianças e adolescentes com a saúde mental comprometida. As mudanças no clima também podem trazer algum dano?
Com certeza a saúde mental infantil também corre risco. Muitas vezes, devido aos desastres naturais, como enchentes e secas prolongadas, as famílias abandonam suas residências e memórias, que de certa forma estão diretamente relacionadas ao bem-estar emocional dessas crianças e adolescentes, gerando possíveis traumas psicológicos e aumento de transtornos como ansiedade e depressão.
Frente a catástrofes climáticas, crianças e adolescentes ficam expostos a perdas não apenas materiais, mas também de parentes e entes queridos.
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Como sociedade médica pode ajudar a população pediátrica?
O Sabará Hospital Infantil em parceria com o Instituto de Pesquisa PENSI Sandra Setúbal Mutarelli está com um projeto no qual foram analisados dados ambientais. Por exemplo, os níveis de poluição e umidade impactam na taxa de atendimento dos pacientes.
Foi observado que cerca de 80% dos atendimentos pediátricos estavam relacionados a doenças respiratórias e que mesmo pequenas variações diárias de material particulado (MP10) e baixa umidade relativa do ar, influenciam diretamente a taxa de atendimentos e internações.
Qual é o objetivo desse estudo?
Identificar relações de causa e efeito entre variáveis como poluição, umidade relativa do ar, temperatura e saúde aplicando esses conhecimentos em políticas públicas e intervenções médicas.
Por exemplo, utilizamos modelos de inteligência artificial para prever surtos de doenças respiratórias com base em dados ambientais e clínicos, facilitando ações preventivas.
Com essas informações o que podemos oferecer de melhora no atendimento ao paciente?
Com os dados que coletamos, identificamos que a exposição a altas concentrações de poluentes está associada a um aumento imediato de atendimentos por doenças respiratórias.
Toda a sociedade pode e deve participar de ações que visam minimizar os danos causados ao meio ambiente em prol da saúde, tanto infantil, quanto de um modo geral. Enfrentar esses desafios requer políticas públicas eficazes, fortalecimento dos sistemas de saúde e conscientização sobre os efeitos das mudanças climáticas na infância. Somente com ações coordenadas será possível minimizar os impactos sobre a saúde das futuras gerações.
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