Saúde precisa estar na agenda climática dos…

OAzerbaijão, país asiático que vive de petróleo, foi, ironicamente, a sede da COP29, encontro anual da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir as mudanças climáticas que aconteceu no fim de 2024.

Foi apenas a terceira vez que o evento, considerado o mais importante sobre o tema, teve discussões dedicadas à saúde pública. A presença do tópico foi avaliada pelos presentes como tímida, com pouca atenção da mídia e praticamente nenhum grande acordo de investimentos. Aliás, segundo a ONU, apenas 2% dos financiamentos multilaterais (que envolvem mais de um país) sobre clima vão para projetos de cunho sanitário.

É um descompasso em relação às evidências do impacto do aquecimento global e dos colapsos ambientais no bem-estar dos cidadãos.

O Brasil se movimenta para assumir uma posição de destaque nesse debate, conta a secretária nacional de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, em conversa com VEJA SAÚDE.

Ela compartilha suas experiências na COP29 e adianta o que o Ministério da Saúde tem em mente para a COP30, que acontece neste ano em Belém (PA). Os olhos do mundo estarão voltados à região, cuja população já sofre com as consequências das mudanças climáticas e da degradação ambiental.

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Espera-se que o assunto ganhe, enfim, o devido destaque. Confira a seguir a entrevista.

VEJA SAÚDE: Até que ponto as questões de saúde entraram na pauta da COP29? Qual a sua avaliação?

Ethel Maciel: Para traçar um breve histórico, começamos a discutir saúde na COP27, no Reino Unido, de uma maneira bem discreta. Na COP28, houve o primeiro “dia da saúde” organizado pela OMS. Na data, países realizam um painel compartilhando suas experiências e firmam compromissos.

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E agora, na COP29, assinamos uma declaração tornando permanente o dia da saúde. É um compromisso de que o assunto será discutido todos os anos, mas a avaliação é que a inserção da saúde na agenda ainda é muito tímida.

A próxima COP é no Brasil, então há uma expectativa para que tenhamos um dia da saúde mais robusto, já que o tema é uma questão central para nós e o país é um dos únicos do mundo que têm a garantia da saúde como direito constitucional.

Já houve conversas sobre a COP30? O que pode adiantar?

Fizemos encontros bilaterais importantes na edição deste ano, que irão ajudar na preparação para 2030, envolvendo Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Destaco a conversa com o grupo do Lancet Countdown [projeto do periódico científico The Lancet] para atuarmos juntos na definição de indicadores que mostrem o impacto da mudança do clima na saúde.

Hoje, não há consenso sobre isso, e a ideia é apresentar na próxima COP não só uma nova declaração, mas estratégias concretas para direcionar futuros monitoramentos. Também nos reunimos com os Países Baixos, que têm uma infraestrutura robusta de adaptação a enchentes, com a qual podemos aprender.

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Como o Brasil se posiciona em relação a outros países na resposta ao impacto das mudanças climáticas na saúde?

A grande questão agora é como construir sistemas de saúde mais resilientes, que se adaptem rápido frente a eventos extremos. Para isso, é preciso ter um sistema de saúde em primeiro lugar, e muitos países não têm isso de maneira estruturada como nós.

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Temos o SUS, o maior sistema de saúde pública do mundo, e já temos uma rede estabelecida que conseguiu, em pouco tempo, levantar hospitais de campanha e prestar atendimento às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.

Na pandemia, também ficou claro que conseguimos responder a emergências, mesmo com a falta de coordenação. Então temos esse diferencial, além de outros, como os agentes de combate a endemias, que hoje trabalham com a dengue e outras arboviroses, mas podem atuar como mecanismos de vigilância de novas epidemias, que tendem a surgir mais com o aquecimento global.

A intenção da ministra [Nísia Trindade] é que o Brasil lidere essa pauta.

Quais são as prioridades do ministério nesse sentido e o que já está sendo feito?

A pauta prioritária é a Amazônia, que historicamente tem grandes vazios assistenciais e de vigilância. Então queremos melhorar esse aspecto, até para detectar cedo qualquer novo vírus ou bactéria que passe a circular por lá.

Além disso, estamos construindo o primeiro laboratório brasileiro com o nível mais alto de biossegurança, o que ajudará no acompanhamento de patógenos. Ainda criamos neste ano uma sala nacional de emergência climática em saúde, um espaço permanente com equipe que se reúne periodicamente e dialoga com estados e municípios para acompanhar queimadas, secas e enchentes.

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A partir daí, entendemos o que precisa ser feito caso a caso. Até o momento, fizemos 51 reuniões e realizamos missões para sete estados, como o Acre, que sofreu bastante com os incêndios neste ano.

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Quais são os principais desafios para estruturar uma reação à emergência climática no Brasil?

Em primeiro lugar, temos um país de dimensões continentais, com regiões com características e necessidades muito distintas entre si. Segundo, tem a questão do financiamento. Você precisa de dinheiro para contratar profissionais, construir estruturas, e nosso orçamento não mudou.

Ou seja, estamos fazendo mais com o mesmo recurso. Em terceiro lugar, destaco a questão da desinformação, porque as pessoas não espalham só notícias falsas sobre vacinas ou câncer, mas também sobre as mudanças climáticas.

Isso é um problema que influencia o comportamento da população. Nesse sentido, precisamos rebater a desinformação com informação de qualidade.

O impacto do clima na saúde

2 a 4 bilhões de dólares por ano: é o impacto das alterações ambientais no orçamento da saúde no mundo.

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250 mil mortes extras por ano: previstas entre 2030 e 2050 devido a desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico.

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