Covid longa: estudo revela alta prevalência…

Ao longo dos últimos cinco anos, a comunidade científica se desdobrou para entender as características e efeitos do coronavírus para o organismo humano. A covid-19 se revelou mais do que uma infecção respiratória, com impactos que se estendem para diversos órgãos e sistemas e podem durar muito tempo.

A covid longa, ou síndrome pós-covid, ainda apresenta uma alta prevalência entre a população, com sintomas duradouros, como fadiga, dor articular e comprometimento cognitivo. Os dados são de um novo estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), realizado em parceria com a Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, e a Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres.

Apesar dos reveses evidentes, o problema ainda permanece invisibilizado nos serviços de saúde, misturando-se a outras demandas, segundo a análise. Enquanto isso, pacientes enfrentam desafios para obter os cuidados necessários em espaços sem o preparo adequado.

Para identificar os gargalos nesse contexto, o grupo de pesquisa entrevistou mais de 650 pacientes hospitalizados ou seus representantes e quase 30 gestores e profissionais de saúde de serviços da cidade do Rio de Janeiro. As informações foram coletadas entre novembro de 2022 e abril de 2024.

“O estudo buscou, especialmente, identificar as necessidades, o uso e as barreiras de acesso aos serviços de saúde”, resume a pesquisadora da Fiocruz Margareth Portela, coordenadora do projeto no Brasil, em nota.

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Impactos

A análise revelou uma alta prevalência de sintomas pós-Covid relatados pelos próprios enfermos. Enquanto 91,1% dos entrevistados relataram pelo menos um sintoma, 71,3% afirmaram vivenciar pelo menos um sintoma frequente.

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Do total de entrevistados, 39,3% autorreferiram síndrome pós-Covid, mas, apenas 8,3% receberam o diagnóstico de um profissional de saúde. O levantamento observou ainda uma elevada mortalidade (12%) entre a alta do paciente e o seu recrutamento para o estudo até dois anos depois.

Os cinco sinais pós-covid mais comuns foram:

  • fadiga
  • mal-estar pós esforço físico ou cognitivo
  • dor nas articulações
  • alterações no sono
  • comprometimento cognitivo.

Ainda como manifestações de alta prevalência — desenvolvidas em mais de 25% dos entrevistados, foram relatadas dormência, ansiedade e depressão.

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Lacunas

Cerca de 50% dos participantes afirmaram ter precisado de unidades de saúde no prazo de seis meses antes da entrevista para lidar com condições que apareceram ou pioraram após a infecção pelo coronavírus.

Os serviços em destaque foram atendimento médico especializado, farmácia, cuidados ambulatoriais na atenção primária e serviços laboratoriais. Contudo, quase metade das pessoas (47,7%) que relataram precisar de uma clínica pós-Covid ou de um serviço de reabilitação não conseguiu o acesso. Além disso, muitos não sabiam da existência de unidades desse tipo na capital fluminense.

Pouco mais de 43% dos voluntários que relataram questões de saúde mental não conseguiram utilizar o serviço. E, em casos de sucesso, 70% ocorreu via rede privada.

Entre os fatores que atravancam o acesso na atenção primária e especializada estão o aumento da desigualdade social e seu impacto sobre o Sistema único de Saúde (SUS), a sobrecarga da rede de atendimento, escassez de protocolos claros para diagnóstico e encaminhamento e dificuldades dos profissionais de saúde.

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“Por isso, destacamos que mais capacitação, treinamento e educação continuada podem contribuir para aumentar a conscientização das equipes de saúde sobre como identificar e cuidar de pacientes com covid longa”, defende Bárbara Caldas, uma das autoras e pós-doutoranda da ENSP.

Estima-se que a covid longa afete milhões de brasileiros, com um impacto desproporcional sobre as populações mais vulneráveis. As pesquisadoras defendem que o cuidado público de saúde para a síndrome é essencial para o enfrentamento das desigualdades socioeconômicas e de saúde.

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